Crianças, Cuidado!

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Amor de mãe, amor de irmãos

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PRECISAMOS FALAR SOBRE ABORTO

PRECISAMOS FALAR SOBRE ABORTO

Eu nunca fiz aborto.  Mas não quero aqui subir no pedestal de quem está isento desse ato e julgar as pessoas que o fizeram. Não me cabe julgar. Todos nós, somos capazes de realizar coisas impensáveis se passamos por uma situação difícil. As pessoas que passam por essa situação precisam de compreensão e muita ajuda.

O abuso de mulheres, o preconceito, as piadas sem graça, o descaso, as injustiças... Vivemos num mundo cheio disso. Cheio de coisa errada. Por isso que quando falamos de aborto estamos falando claro, de homens e mulheres que cometem abortos. Quantos homens e mulheres você conhece que fizeram aborto? Familiares e colegas ou mesmo você, seja homem ou mulher. E como é isso? E por quê?

Dos casos que conheci apenas uma moça falava com toda convicção que realizava pelo menos um aborto por ano e que isso não a deixava mal, pelo contrário, a deixava mais empoderada do seu próprio corpo. Ela comentava isso em resposta a outra moça que tinha acabado de acompanhar a amiga num aborto e que se sentia um tanto nervosa (nesse caso a moça que tinha realizado o aborto era uma jovem filha de pastor, que, pelo que entendi, não queria de fato abortar, mas o fez por muito medo do que seus pais iriam pensar da sua gravidez na adolescência). Ouvir isso me deixou mal. Ouvi isso calada, numa rodinha de aula de ballet. Como disse, o depoimento da primeira moça foi o único que ouvi a pessoa falar sem constrangimento e convicção de que isso era o melhor. Os outros todos foram em meio a lágrimas e não como uma opção entre abortar ou não, mas se sentiam coagidas a fazê-lo.

Não vou fazer uma lista dos casos de aborto que conheço. Não pretendo expor a vida dos outros. Apenas coloco que no pós-aborto, conheci casos comoventes de arrependimento e reconciliação. Cada um com sua história, com seu caminho, seu momento para isso.

Mas o que me deixa bastante preocupada e que não consigo parar de pensar e julgar (que Deus me ajude), é na indústria do aborto. Todo dinheiro envolvido com a questão do aborto, clínicas, medicamentos, etc. Aprendi um pouco mais sobre esse assunto no filme Blood Money – Aborto Legalizado (você pode assistir dublado e completo em: https://www.youtube.com/watch?v=6i5m6j6ffrM). Infelizmente existem diversos profissionais espalhados pelo mundo vendendo um produto que não é bom. Propaganda enganosa, clínicas aparentemente bonitas, pessoas aparentemente bem resolvidas. Mas a incoerência e infelicidade pairam no ar.

Não posso deixar de comentar sobre a relação entre idade gestacional e aborto. Me parece medíocre ficar discutindo com quantas semanas se pode ou não fazer aborto. Fiz uma pesquisa no google e observei que existem discussões médicas sobre sofrimento fetal (o que justificaria o uso de anestesia para diminuir o sofrimento do feto). Varia no mundo a situação jurídica sobre aborto e também o limite de semanas aceitas para realizar aborto. Existem estudos científicos que apontam para a existência de sofrimento fetal a partir das sete semanas, outros com dez semanas, outros para a partir do segundo trimestre de gestação e outros que apontam só para após nascimento. Mas então pergunto: e as crianças que nascem com uma síndrome e que não sentem dor? Por isso podemos bater nelas? Matá-las?

Outro motivo por achar essa discussão problemática é que a idade gestacional raramente é calculada com exatidão (se é que possa ser alguma vez calculada com tanta precisão). O ultrassom é uma estimativa, que pode ter uma margem de erro de quase uma semana (sei disso por experiência própria, ao ler meus ultrassons de diferentes clínicas). E quem é que irá fiscalizar exatamente se passou um dia, dois, três? Teoricamente, um dia faria diferença, visto que estamos falando de semanas.  Convenhamos, não é do interesse da clínica não realizar o aborto.

E se formos mais a fundo, percebemos que o interesse é realizar o aborto em qualquer idade gestacional, inclusive pós-parto. Sim, o aborto pós-parto tem sido discutido por aí:
https://www.ufrgs.br/bioetica/abortopos.htm, sobre o artigo original que tem dado o que falar: http://jme.bmj.com/content/early/2012/03/01/medethics-2011-100411.full. Lendo tais deias, me faz pensar que, nesse mundo, existe uma aversão patológica ao bebê.

Outros pontos que levanto com relação ao aborto e seu incentivo:

- Não considero adequado relacionar parto com aborto. São opostos. Em certas pesquisas são colocados dados como: é mais seguro abortar no primeiro trimestre que passar pelo parto. Nesse sentido me chocou o depoimento de Emmily Letts, que trabalha em uma clínica de aborto, fez um filme de seu próprio aborto, ganhou prêmios com isso e diz que percebeu o momento como se fosse um parto - em que estava cantarolando e tranquila. No texto ela fala ainda da existência de três tipos de doulas: especializadas em nascimento, em adoção e aborto (http://blogueirasfeministas.com/2014/05/porque-filmei-meu-aborto/). Diante desses fatos penso que é possível mostrar um aborto sendo realizado “tranquilamente” filmando apenas o rosto da mulher (como o filme citado foi feito). Mas é impossível mostrar o outro lado dessa mesa forma. O lado do bebê. É chocante ver os filmes de aborto, mas diante a banalização do mesmo vejo como algo necessário.

- A veracidade dos dados que aparecem sobre aborto como índice de mortalidade materna, etc. Pesquisas e dados contidos no próprio Ministério da Saúde (data sus) demonstram que não são bem como estão sendo noticiados, e até mesmo o contrário do que se diz. Por exemplo os índices de aborto não diminuem quando o aborto é legalizado, mas pelo contrário aumentam ao longo dos anos (veja depoimento da especialista em saúde pública, Isabela Mantovani: https://www.youtube.com/watch?v=UVG6gFN3Sdc&t=420s).

Em termos de políticas públicas, sabe-se que um atendimento a longo prazo a essas pessoas que precisam de muita ajuda é menos vantajoso. Isto é, encorajar a mulher e o homem a terem o filho, oferecendo apoio psicológico, social, médico durante toda a gestação e pós-parto (e claro, educação e saúde para o indivíduo durante sua vida) é menos prático que realizar um aborto em alguns minutos.
Não sou de cobrar do estado assistencialismo desmedido, mas não compreendo como no mundo de hoje, em que tanto se fala e se reivindica do estado os direitos de todos, todas, raças, orientação sexual, direito dos animais, trabalhadores, empregados, desempregados, portadores de necessidades especiais, por que ser diferente com o direito do ser humano no seu início da vida? E olha que os portadores de necessidades especiais são os mais prejudicados e vítimas de preconceito quando se trata de aborto eletivo (leiam os motivos de aborto e suas justificativas no artigo que coloquei acima sobre aborto pós-parto).
Não podemos julgar que é melhor para o bebê não nascer do que ser pobre, ou não nascer que nascer deficiente, ou não nascer que nascer numa família violenta. Acredito que todos que estão lendo isso já presenciaram fatos na própria vida ou na vida de conhecidos coisas impressionantes. Podemos ver casos em que numa família linda, rica, o filho mata os pais; em contrapartida crianças pobres que sofreram abusos superarem tudo isso, sendo exemplos na sociedade e que auxiliam os outros.

Compreendo a razão pela vida do feto ser um fato diferente. Ele está dentro de outra pessoa. A mulher carregando dentro de si outro ser humano. É realmente um mistério que pode ser visto como Graça de Deus ou fardo a carregar. De fato, nenhuma gestação, planejada ou não é absolutamente tranquila para a mulher. Existe a transformação do corpo, os desconfortos, a espera, o parto, o pós-parto. Podemos pensar: é injusto a mulher passar por isso e o homem não.
Quem já não pensou assim, por minutos que sejam. Mas e agora?
Nós mulheres precisamos de uma rede de apoio. E essa rede de apoio, perdão, não pode vir de quem rebela contra seu próprio corpo, mas sim de quem o aceita.

A questão da culpa. Fala-se mal de sentir culpa. O importante é seguir em frente e não se arrepender dos atos. O tanto de pessoas frias e inconsequentes que existem devido a esse pensamento é grande. Que diante dos erros, colocam uma pedra no assunto e continuam a se atropelar e atropelar outros por aí. Não acho que devemos nos culpar de forma patológica por um erro. Chorar pelo leite derramado. Mas sim reconhecer o erro. Saber pedir perdão. Buscar reconciliação. E buscar não errar novamente. Mas pelo contrário, aprender com o erro. Tentar se transformar. E produzir bons frutos e ter virtudes. Tendo em vista que a Misericórdia de Deus é infinitamente maior que o pecado mais grave que alguém possa cometer - mas que isso não signifique que nossos erros não existam.

Concluo dizendo que não é certo consertar um erro com outro erro.
Justificar um erro com outro. Apagar.
Podemos fazê-lo. Mas a consciência, lá no fundo, não nos deixa tranquilos.
Não conseguimos fazer o bem, nem ao menos amenizar erros com outros erros.
É como se fosse uma vingança.
Quero dizer com isso que, não é certo que mulheres sejam estupradas, sejam sobrecarregadas com os cuidados da gestação sem apoio do parceiro, carreguem em seus ventres bebês e que os pais desses sumam. Mas diante de todos esses erros humanos o que fazer? Mais erros?

Devemos lembrar que a justiça dos homens é diferente da justiça de Deus. Que Deus tenha misericórdia de todos nós.