Resolvi escrever os relatos dos meus partos. Vou começar pelo último...
Era a data (im)provável
do parto. Quarenta semanas exatas. Na manhã do dia 29 de outubro de 2015, descemos
a família toda para brincar em baixo do bloco. Encontramos coleguinhas das
crianças e tudo mais. Conhecidos e amigos perguntavam quando Sara iria
nascer. Eu dizia que já estava valendo. Dizia isso desde as trinta e sete semanas.
Eu sentia as contrações
como nunca havia sentido: bem tranquilamente. Foi um processo tão, mas tão (não
tenho nem palavras) talvez, tão “respirado”, que nem sei se aquilo era um trabalho
de parto. Já fazia um tempo que eu sentia esse processo respirado, um mês mais
ou menos.
Nessa manhã do dia 29 ficamos
um bom tempo lá em baixo, quando... percebi que era melhor subir, rs. Enquanto eu
atravessava o bloco (nosso bloco é colado a outro bloco e estávamos na ponta
oposta à nossa portaria), sentia as contrações avançando e cada vez me
imobilizando mais, mas não eram nem de longe as contrações surreais que senti
nos meus partos anteriores. Sentia também meu corpo se abrindo. Se abria
lindamente, respiradamente. Meu corpo passava por um processo intenso, mas não
avassalador como em experiência anterior.
Nesse trajeto - super
mega lento - em que eu parava e respirava a cada contração, as pessoas que
passavam (vizinhos, porteiros e transeuntes), preocupadas me perguntavam: “Você
está bem? ”; “Cadê seu marido?”; “Quer que eu ligue para o médico?”; “Quer que
eu te leve para o hospital?”. Se admiravam quando eu apontava para meu
marido: “Ele está ali brincando com as crianças”.
Me perguntavam mais de uma vez. Parece que paravam e sentiam a contração junto comigo,
respiravam também. Me pergunto o que será que deveria estar passando na cabeça
das pessoas. De qualquer forma nesse dia, nesse momento, eu não iria
ficar me explicando para alguém. Explicando sobre nosso parto domiciliar planejado. Eu
queria fluência, suavidade e amor transbordando. Precisava da união da nossa
família, da proteção dos anjos, do olhar de Nossa Senhora e da graça de Deus. Ah, sim, mais uma coisa também: água morninha!
Enfim, consegui
atravessar o bloco naquela odisseia sem fim de contrações paralisantes, porém
não doloridas e aberturas corporais respiradas. Cheguei em casa, resolvi
deitar, ligar para parteira. Não lembro os horários em que as coisas iam
acontecendo, só sei que aconteciam... Só sei que foi assim... Depois que entrei
no apartamento e relaxei, as contrações foram ficando mais espaçadas e menos
intensas. Daí pensei que dê certo a bebê iria ficar mais uma ou duas semanas dentro
do forninho, como fora com seus irmãos. Nesse tempo, as crianças foram para
escola, a parteira e sua assistente chegaram depois e as coisas ficaram relativamente
tranquilas.
Meu marido encheu de ar a
piscina inflável própria para o parto. O meu processo não parou, continuava,
mas bem suave. Sem partolândia. Parteira, assistente, doula e marido apostavam
que o parto iria rolar sim, em algum momento... Mas quando? Bom eu apostei que
iria ser na madrugada, afinal meus partos anteriores foram na madrugada. Era de
tarde, depois de um bom tempo de convivência aqui em casa, parteira e
assistente descem para conversar e me deixar um pouco a sós com meu marido. A
doula também ficou. Começamos a ajeitar algumas coisinhas do bebê...
Tínhamos decido encher a
piscina de água quente apenas quando o processo estivesse mais avançado. Eu
queria que a neném nascesse na água, mais do que ficar durante o trabalho de
parto na água. E a água deveria estar morninha. Então retardamos o enchimento
da piscina. Foi quando estávamos relembrando uma amarração de fralda de pano
que eu senti uma contração forte e dolorosa. Foi engraçado, pois eu estava
falando e de repente meu tom de voz mudou. Lembro que Daniel e Fernanda doula
sorriram. Eu me senti um outro ser, ou melhor senti que eles não eram mais da
minha espécie (espécie mãe parindo agora, é um outro ser, kkk). Aí eu tive
certeza: Tá vindo!
Iupi! Rápido, liga pra
Ritta e pra Dawn subirem. Rápido amor enche a piscina de água quente! Estávamos no quarto
vendo a questão da fralda, a piscina estava na sala. Que trajetória até lá!
Odisseia também. Uhu! Cheguei! Me apoiei na mesa da sala e não conseguia mais
sair. As contrações eram doloridas, e eu estava ali de pé as sentindo. Que
maravilha. A piscina estava a alguns passos e eu não conseguia mais me mover.
Fiquei um tempo ali e senti vontade de fazer xixi. Na hora eu cogitei ir ao
banheiro, mas não conseguia me mexer. Falei que queria fazer xixi e logo
trouxeram os panos de chão novinhos comprados para o parto. Pensei que era
desperdício - olha só o pensamento bobo. Tinha uns cinquenta panos de chão novos
lá em casa só para esse dia. Enfim depois de alguns segundos relutando, fiz
xixi no pano de chão novo, em pé. Melhor fazer ali, que na piscina, pensei. E
eu ia entrar naquela piscina e minha bebê nascer lá!!!
Perguntei em voz alta: “E
se eu fizer xixi na piscina do parto na hora do parto?” E Ritta responde: “Não
tem problema querida você pode fazer”. Sempre acolhedora em seus comentários,
Ritta falava que eu podia fazer o que eu quisesse, e me perguntou o que eu
queria fazer. Que pergunta forte. Mexia comigo, pois por um lado eu queria
responder quero descansar, para tudo. Por outro lado, quero parir meu bebê,
pegá-lo em meus braços. Mas se for pensar direito não são respostas antagônicas,
mas complementares... Isso tudo eu pensei, não falei na hora.
Bom, não sei ao certo o
que ela falou depois, mas sei que explicou que o que eu fizesse, o que saísse
de mim, naquele momento não iria fazer mal para o bebê. Não iria ser sujeira.
Me deu segurança e tranquilidade para eu poder expelir meus líquidos. Líquidos
do parto. Só sei que foi assim. A bolsa estourou nesse momento, eu em pé mesmo,
a alguns passos da piscina.
Logo que pude, entrei na
piscina, com ajuda da parteira e meu marido.
NOSSA! Nunca a sensação
da água quente no meu corpo foi tão boa. Eu pensava e falava alto: Toda mulher,
toda grávida merece essa sensação. Foi tão bom que eu queria ficar ali e não
sentir mais contração. E pior que foi isso que aconteceu, deu uma desacelerada
no processo. Mas não minguou por completo, eu sentia ainda as contrações. Era
intenso, mas não era alucinante como havia sido em partos passados.
Bom,
depois de um tempo respirando, trocando carinhos com meu marido (ele não entrou
na piscina pois estava enchendo a piscina junto com a assistente) a parteira
fala para mim: “Valéria, quando a contração vier, quando você quiser, sentir o
momento, pode fazer força”. Fiquei perplexa, será? - eu estava retardando ao máximo fazer força, pois na trabalho de parto do meu primeiro filho fiz força num momento errado, bem no início do trabalho de parto (o motivo vou redigir no relato de parto do João).
Foi então esperei a contração vir. Fiz força e ela disse: “Segura seu bebê que a cabeça já saiu”. Não acreditei. Eu estava na posição de quatro bases e não consegui me organizar para aparar o bebê (tinha conversado previamente com a parteira que esse era o meu desejo). Daniel veio por trás e na segunda ou terceira força que fiz a bebê nasceu por completo. Na água como havíamos planejado. Incrível, logo ele a passou para mim. A parteira orientou para ter cuidado pois o cordão umbilical era curto. Que felicidade. Ah sim, eram 18h20, a assistente da parteira lembrou de ver as horas.
Foi então esperei a contração vir. Fiz força e ela disse: “Segura seu bebê que a cabeça já saiu”. Não acreditei. Eu estava na posição de quatro bases e não consegui me organizar para aparar o bebê (tinha conversado previamente com a parteira que esse era o meu desejo). Daniel veio por trás e na segunda ou terceira força que fiz a bebê nasceu por completo. Na água como havíamos planejado. Incrível, logo ele a passou para mim. A parteira orientou para ter cuidado pois o cordão umbilical era curto. Que felicidade. Ah sim, eram 18h20, a assistente da parteira lembrou de ver as horas.
Ficamos
ali namorando o bebê que acabara de nascer. Sara, nasceu linda, rosa. Com 3,
565kg. Logo, fui transferida, para o colchão improvisado ali ao lado. Sim,
Daniel e parteira me retiraram da piscina no colo. Para ser mais exata, nos colocaram no colchão, eu e minha pequena que estava agarradinha comigo. Não que eu não pudesse me mover, mas que a parteira fazia questão de me
tratar muito, muito bem, desde sempre. Tudo o que eu precisasse: água, comida, massagem,
palavras, etc. estava ali, próximo e rápido. Eu não faria mais esforço algum
aquele dia, apenas cuidar da minha bebê, amamentá-la.
E, nesse colchão dei mamá
para Sara e a placenta nasceu. Passado o tempo, Daniel cortou o cordão
umbilical as crianças chegaram da escola (a doula tinha ido buscar). João
perguntou: “Já saiu?” Ele estava na expectativa de ver a irmã nascer, tínhamos
nos preparando para isso, lido o lindo livro da Naoli e visto seu vídeo de
parto. João e Cecília não estavam presentes no momento exato do nascimento mas
chegaram a tempo de ver a placenta, já estava no pote de sorvete. A examinaram
acharam interessante. Chegaram a tempo de ver a piscina cheia de água com um pouco de
sangue. Chegaram a tempo de sentir o cheiro de ocitocina no ar. Chegaram a
tempo de ver o primeiro mamá da irmãzinha.
Foto Família Pós -Parto Domiciliar. As crianças já tinham tomado banho (querida doula cuidou disso).
Manhãzinha do dia seguinte do parto. Acima João segurando a irmãzinha.
Abaixo Cecília segurando a irmãzinha, instruída por João.
E foi tudo certo, graças
a Deus. A equipe e família jantavam macarronada feita pelo meu marido e eu
amamentava. Também comi, claro. Já era noite, equipe do parto foi embora, eu fui para o quarto com a bebê e meu marido. As crianças já dormiam no quarto delas. Fomos todos dormir. Dormir com mais um
integrante da família ali. Tudo tranquilo. Obrigada Senhor! Era sim um parto de
filme, como está na moda, como muitos eu assisti e que me auxiliaram no meu
parto. Dessa vez não filmamos, apostei
no meu recolhimento, introspecção e vivência em família.
Quando me perguntam
quanto tempo durou esse trabalho de parto não sei responder. Dependendo do
ponto de vista, talvez um mês, talvez quinze minutos. Pois foi direto desse
processo respirado para o expulsivo que nem sei dizer quanto minutos durou. Só
sei que por um lado o expulsivo foi rápido, muito rápido, e, por outro, o processo
de respiração e abertura do corpo e contrações foi muito lento, suave.
No dia seguinte a vovó já estava lá em casa paparicando mais um netinho.
No dia seguinte a vovó já estava lá em casa paparicando mais um netinho.
Agradeço a Deus pela
vida, a meu marido pelo apoio incondicional, toda equipe do parto, todas as mães
que compartilharam suas experiências e que me auxiliaram a desejar esse parto.
Para quem tiver interesse esse é o link para vídeo no youtube do parto de Naoli Vinaver:
https://www.youtube.com/watch?v=nOBhIC55kEAE o livro de Naoli que li com as crianças (cheio de ilustrações belíssimas) se chama:
Nasce um bebê naturalmente
Que relato lindo, Valéria! Que momento único! Agora, mais do que no dia que os vi juntos, admiro você, sua família, o amor e a tranquilidade que emanam. Parabéns, querida! Viva Sara! Viva o amor maternal e a entrega de quem dá a luz! Deus os abençoe. Todo meu carinho e respeito pela família de vocês. Beijo imenso! <3
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